terça-feira, 22 de outubro de 2013

Colunista - Luto. A dor é suportável


Por Ana Paula Schneider
 
 
O LUTO é um processo que ocorre imediatamente após a morte de alguém que amamos e as pessoas, frequentemente, não se encontram preparadas para lidar com a finitude humana. Não é um sentimento único e sim um conjunto de sentimentos e emoções que requer um tempo para serem digeridos e não podemos apressar, pois cada um de nós tem um tempo emocional e deve ser respeitado.

Elaborar o luto é viver os sentimentos tais como eles são com choro, com reservas, com necessidade de falar, lidar com a raiva, o desapontamento e todas as formas com as quais a pessoa consiga manifestar, há seu tempo, tudo aquilo que sente.
 
Apenas quando os sintomas negativos forem persistentes e duradouros demais, podemos pensar que a superação desta perda e suas etapas não foram bem vividas, tanto no mundo externo quanto interno da pessoa.
 
O luto passa por algumas etapas antes de sua conclusão. Inicialmente há o choque da perda, quando a pessoa fica totalmente anestesiada; depois vem a negação, a raiva quando intervêm sentimentos como a descrença, os questionamentos, a sensação de estar junto da pessoa que se foi, é apenas o início da percepção do que aconteceu. Logo em seguida entram em cena o sofrimento e a inevitável desestruturação, quando surgem os sentimentos depressivos, a solidão, o medo, a agressividade, a culpa. Nesta fase a pessoa somatiza o sofrimento e se distancia de seu cotidiano. Finalmente o ser carente entra no processo de recuperação e de aceitação, cria perspectivas futuras, adapta-se ao rompimento, inicia novas relações e processa um comportamento mais positivo.
 
Essas fases não ocorrem seguidamente um do outro e podem ser vividos ao mesmo tempo. É importante ressaltar que na fase de recuperação o sentimento de perda não desaparece completamente, mas ele é atenuado É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. A dor é para ser vivida, entendida e o mais importante, superada, jamais ignorada ou negligenciada.
 
Um dos sentimentos mais recorrentes que podemos citar é a culpa e uma boa forma de se lidar com ela é conhecer sua origem. Se pensada e aceita como algo próprio da condição humana, e entendida como algo constituinte de nossas experiências as quais não escapa humano algum, ela por si já estará minimizada. Desta forma, o que torna o sofrimento da culpa e da dor insuportável, doentio, não é a culpa e as perdas que contem, mas a interpretação que fazemos dessa culpa e dessas perdas.
 
É possível dizer que em geral o tempo que a maioria das pessoas leva para lidar com a ausência do ente falecido, gira em torno de um a dois anos. A superação só se dá a partir de um longo processo e ela não significa esquecer, fingir que não aconteceu ou ainda não sentir dor quando lembrar. Para reestabelecer a rotina é interessante o trabalho, pois ele impede a pessoa render-se a paralisia, ao desanimo e principalmente, a não justificar o fracasso pela ausência do ente querido, ele deve entrar como uma tarefa que auxilia a pessoa a continuar a rotina de sua vida. Mas é necessário ter cuidado para não adiar e não viver o tempo do luto, tão necessário para superá-lo. Cada um demonstra a dor a seu modo e há seu tempo.
 
Quando a morte ocorre de forma trágica e repentina, tende a causar inúmeras alterações na vida de uma pessoa, acarretando, muitas vezes, prejuízos e alterações, principalmente, nos funcionamentos emocionais e cognitivos. Neste momento, os enlutados poderão recorrer a um psicólogo, e este tende a priorizar o acolhimento e a escuta ao paciente.
 
O luto vira o mundo da pessoa de cabeça para baixo e é uma das experiências mais dolorosas. A depressão pode fazer parte do processo. O perigo desse estágio é o tempo de permanência contínua e o agravamento do quadro depressivo. Em pessoas com depressão prolongada ou com antecedentes de transtorno afetivo ou do humor, recomenda-se ajuda terapêutica.
 
A função do psicólogo é estar ao seu lado para auxiliá-lo a passar adequadamente por todas as fases do luto, a ter compreensão intelectual, mas, sobretudo elaborar aspectos emocionais, mas sempre respeitando o ritmo de cada Ser.
Um bom profissional ajudará o enlutado a ter senso de confiança, ajudará a desenvolver habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte e a capacidade de se tornar envolvido novamente.
 
Ajudar um enlutado não é dizer frase do tipo: “não chore, não seja fraco, ele não gostaria de te ver chorando” “bola pra frente”, “a vida continua”, “logo, logo você esquece e parte pra outra”. Geralmente essas são palavras banais e nem sempre ajudam, uma vez que a forma de manifestar a dor, em cada um de nós, é diferente, pode causar irritabilidade para a pessoa que está sofrendo, então amigos e familiares podem ajudar simplesmente com a presença durante o tempo de sua dor e de sua angústia. Um ombro amigo, compreensivo e mesmo silencioso expressará grande apoio quando as palavras não são suficientes. É importante dar para as pessoas tempo suficiente para se lamentarem, não apressem o ritmo do enlutado, não ignore sua dor, apenas seja um ombro amigo e presente.
 
''A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe''.
 
 
 
 

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